Por Berna Almeida

crônicas -

Silêncio Mortal


A partir de um tempo, começamos a lidar com uma pessoa que não mais responde por si…

Não consegue mais se expressar, se cala, desconhece pessoas, coisas, como se come, como se toma banho, onde faz suas necessidades fisiológicas, não se sente mais em casa, perambula dia e noite, em busca do útero materno.

Difícil acreditar no que hoje se tornou: Um ser humano em cima de uma cama, alheio a tudo e a todos.

O filho entra, fala, chora, suplica, pergunta o que se pode fazer para ajudar…

Não há resposta.

O outro vem com a comida que esfria com tantas tentativas… A boca não funciona mais…

O outro vem para trocar a fralda, vira para lá, vira para cá

O olhar perdido, continua fito ao teto.

O silêncio é total…


Não ouvimos mais nenhuma murmuração ou pedido de ajuda, ou se dizendo com dor ou pedindo para ir para casa de sua mãe…

Nesse silêncio que ecoa, o ente querido ouve os gritos, choros, lamentos, daqueles que cuidam…

Há apenas os gritos daqueles que nada podem fazer, a não ser se confrontar com o inconfrontável…

Nesse debate insano, o ente querido se rebela, grita, clama por socorro, se fadiga com o choro do Cuidador…


Sem nada entender do que se passa, se descontrola, pede ajuda, mas ninguém o ouve…

As lagrimas do Cuidador se juntam as suas, e tudo se torna um rio de dor, tristeza, de buscas incansáveis pelas gritantes perguntas que invadem a alma.

Diante do desespero, o ente querido se anula, se perde sem forças para encontrar o caminho de volta.

Não há mais o que fazer, a não ser ouvir os choros e lamentos do Cuidador.

Fica um impotente de cá, e de lá o ente querido sem entender nada, e os dois nas mãos de 1 Sujeito chamado Alzheimer.



Autoria: Berna Almeida